Quando a Vida Te Coloca Diante do Espelho
Quando a Vida Te Coloca Diante do Espelho
A vida tem um jeito curioso de nos surpreender. Às vezes, ela traz de volta pessoas que um dia passaram por nós como figurantes desapercebidos. Rostos que, em algum momento, dividiram o mesmo espaço, mas que o destino guardou numa prateleira alta da memória. Anos depois, quando menos esperamos, ela os devolve… agora com outras marcas, outras histórias e outras cicatrizes.
O reencontro não é apenas com o outro. É, principalmente, um reencontro com quem nos tornamos ao longo da caminhada.
Quando me vi diante dessa presença inesperada, percebi como o tempo é implacável e generoso ao mesmo tempo. Implacável porque muda as pessoas, as endurece, as protege com armaduras emocionais. Generoso porque nos dá a chance de olhar além da superfície.
Logo nos primeiros instantes, a máscara do humor exagerado, das frases prontas e da autodeclaração de força começou a cair aos meus olhos. O rótulo de “macho alfa” era apenas uma defesa mal disfarçada. Uma proteção infantil para alguém que, por dentro, carrega feridas que ainda latejam. A perda, a saudade, a frustração de não ter construído certos vínculos como gostaria… tudo estava ali, por trás de cada piada, cada provocação e cada olhar de quem não sabe se se entrega ou se recua.
E o mais curioso é que, enquanto eu o lia, também me lia. Percebi o quanto o meu cérebro é rápido em criar histórias. A minha urgência por respostas, por certezas, por sinais claros… tudo isso era o reflexo direto das minhas próprias feridas emocionais. O medo da rejeição, da ausência, da desvalorização… tudo vinha à tona no menor sinal de silêncio ou ausência de resposta.
A cada não-resposta, uma história inteira era roteirizada na minha mente. Como se meu inconsciente quisesse prever o desfecho para evitar a dor. O cérebro tem esse mecanismo: prever o futuro para nos proteger. Mas a verdade é que, ao tentar fugir da dor, eu criava um sofrimento antecipado.
E então eu me perguntei: o quanto desse desconforto é sobre ele? E o quanto é sobre mim?
Foi nesse mergulho interno que entendi que, muitas vezes, não é o outro que nos abandona. Somos nós que nos abandonamos. Somos nós que deixamos de sustentar a nossa própria paz, esperando que o outro nos dê aquilo que só a gente pode nos dar: segurança emocional.
Durante esses dias, fiz um exercício de observação. Sem pressão, sem cobranças. Apenas observando o comportamento dele… e o meu.
Vi um homem carente, em processo de reconstrução, tentando se convencer de que é mais forte do que realmente sente ser. Alguém que busca aprovação até nas pequenas coisas, que precisa perguntar se está certo em escolher um carro, uma roupa, uma atitude.
Vi também o quanto eu tinha evoluído. Porque, em outras épocas, eu já teria mergulhado de cabeça, ignorado todos os sinais e romantizado todas as carências dele. Hoje, consigo ficar. Ficar sem me anular. Sem perder o meu próprio centro.
A vida, nesse encontro inusitado, me ensinou que não é meu papel consertar ninguém. Mas é minha responsabilidade não me quebrar tentando preencher o vazio de outro alguém.
O silêncio dele não precisa ser um gatilho. As ausências dele não precisam ser confirmações de que eu não sou suficiente. Porque, hoje, eu sei que sou.
Se o caminho dele cruzou o meu, foi por um propósito. Se vamos ou não escrever uma história juntos, o tempo mostrará. Mas, enquanto isso, a minha história… essa sim… continua. Independente das respostas que eu gostaria de ter. Independente das mensagens não respondidas. Independente das madrugadas em que o meu pensamento divaga.
Hoje eu escolho viver o meu presente com consciência. Escolho continuar o meu processo de autoconhecimento. Escolho manter minha paz como prioridade.
Se ele um dia ler esse capítulo… talvez sinta que existe algo familiar nas entrelinhas. Talvez se reconheça no espelho que um dia me estendeu. Talvez… ou talvez não.
Mas isso… já não é mais uma urgência pra mim.
Escrito por Cristiane Pritski, em 24/06/2025, com carinho e reflexão, para aqueles que buscam inspiração e transformação em sua própria jornada.



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